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1 de Maio de 2024
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    Agentes da ditadura são investigados por ocultar corpo

    O Ministério Público Federal (MPF) abriu investigação criminal contra agentes da repressão por crimes de ocultação de cadáver. Até agora, os procuradores da República só haviam denunciado militares e delegados civis do período da ditadura por sequestro. Para o MPF, tanto sequestro como ocultação de cadáver são crimes permanentes e estão fora do alcance da lei da Anistia.

    O primeiro caso investigado é o do estudante de Medicina Hiroaki Torigoe, morto aos 28 anos. Em 1972, Torigoe foi preso pelo DOI-Codi, que era comandando pelo coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra. Torigoe foi enterrado sob o nome de Massahiro Nakamura, um estudante de Economia de São Paulo que chegou a procurar o delegado Alcides Singillo dias depois da divulgação da morte, para esclarecer o caso. Tanto Singillo quanto Ustra são processados pelos procuradores da República pelo sequestro de outro militante de esquerda, Edgar de Aquino Duarte, desaparecido desde 1971.

    Torigoe foi morto em 5 de janeiro de 1972, mas a versão de morte em tiroteio só foi divulgada pelo regime militar 15 dias depois. Sua família nunca foi avisada pelas autoridades policiais e soube da morte pela televisão. O atestado de óbito do estudante aponta como causa anemia aguda traumática provocada por projétil de arma de fogo. Tem um enorme T escrito a mão, como identificação para terrorista.

    O procurador da República Sergio Suiama afirma que as investigações desmentem as duas versões do regime militar: a de que as autoridades não sabiam seu nome verdadeiro e a de que o estudante fora morto em tiroteio. A ata de uma reunião da comunidade de informações, dias depois da morte, mostra que os agentes já sabiam que Torigoe estava morto. Uma foto encontrada no Dops mostra Torigoe morto com o corpo marcado por torturas.

    Pelo menos duas testemunhas confirmaram ao MPF que o estudante foi preso e torturado no DOI-Codi e que os agentes sabiam de quem se tratava. Um militante preso na mesma ocasião afirmou que ouviu Torigoe gritar Eu não tenho medo de vocês e que, a essa frase, sucedeu-se um barulho forte de paus e ferros e, depois, um silêncio.

    O modus operandi era enterrar a vítima com nome falso e só comunicar a morte depois, com o objetivo de ocultar o cadáver. Duas testemunhas viram Torigoe chegar vivo ao DOI-Codi, provando que os agentes sabiam quem era ele diz Suiama, apontando ainda que foram levantados documentos que corroboram com as testemunhas.

    Torigoe deixou a ALN e participou da criação do Molipo (Movimento de Libertação Popular), uma dissidência do grupo. Dois meses antes de sua morte, procurou seus familiares com um cartaz em que apareciam dez militantes procurados pela polícia como terroristas. Disse à família que era o único sobrevivente entre aquelas fotos.

    A mais recente iniciativa para localizar os restos mortais de Torigoe foi feita este mês, com uma investigação da Equipe de Antropologia Forense da Argentina sobre 23 das mais de 1.040 ossadas descobertas na vala clandestina do cemitério Dom Bosco, em Perus, em 1990. Os restos mortais não foram localizados nesse lote. (O Globo)

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