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19 de Abril de 2024
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    Tecido para afastar infecção hospitalar

    Designer mineiro desenvolve pesquisa com material têxtil na Europa, usando um agente antimicrobiano encontrado em crustáceos com fibras de cânhamo. Eficácia foi comprovada

    Um tecido para proteger a saúde, impedir a proliferação de bactérias, tornar totalmente confiável o ambiente hospitalar e ainda ajudar a natureza. A novidade em produtos têxteis - uma malha própria para uniformes cirúrgicos de médicos e enfermeiros, além de roupas de cama de hospitais - foi desenvolvida pelo mineiro Lucas Bernardes Naves, de 25 anos, formado em design de moda na Universidade Fumec, em Belo Horizonte, e mestre em design têxtil pela Universidade de Beira Interior, em Covilhã, Portugal. Vivendo atualmente entre Portugal, Espanha e Holanda e envolvido em projetos na área de tecidos inteligentes, o designer diz que o objetivo da pesquisa é substituir a tradicional fibra de algodão, naturalmente atacada por fungos e bactérias, e diminuir o alto grau de contaminação do têxtil em uso nos hospitais. O resultado desse trabalho, diz ele, trará mais bem-estar para os doentes e segurança nas tarefas dos profissionais de saúde.

    A malha foi criada a partir de um agente antimicrobiano encontrado no exoesqueleto de crustáceos, o chitosan, produto 100% natural e renovável, aplicado na fibra de cânhamo. Foram investigados outros agentes, como o bionyl e agiene - o primeiro na forma de pó, que deve ser vaporizado para então ser aplicado à trama, e o segundo um agente antimicrobiano também, com nanopartículas de prata -, mas com o chitosan "tivemos uma atividade antimicrobiana de 99,98%. E ele se mostrou muito eficiente contra a bactéria Staphylococcus aureus, uma das mais encontradas nos hospitais e que pode acarretar muitas doenças", acrescenta Naves.

    O foco da pesquisa é o material e o design, diz o mineiro nascido em Varginha, no Sul do estado. "A intenção é obter uma roupa com imagem corporativa e estética, desenho ergonômico, facilidade de vestir/despir, flexibilidade e liberdade de movimentos, respirável, com absorção e neutralização de odores, gestão da umidade e temperatura, proteção antibacteriana e alta visibilidade", explica o designer.

    Lucas Naves conta que, hoje, o processo para produzir a fibra e entregá-la à indústria é caro, sem falar que o cultivo do algodão exige muita água e degrada o solo. "Queríamos desenvolver um material têxtil hospitalar que fosse o mais ecológico possível e resistente aos micro-organismos", afirma, lembrando que a fibra de algodão ainda é a mais usada no mercado europeu. Além disso, "a escalada do preço do algodão nos mercados mundiais, aliado ao uso intensivo - e quase exclusivo - em vestuário hospitalar, faz com que donos de hospitais procurem alternativas mais econômicas e eficazes".

    Apoio familiar

    A pesquisa foi conduzida no Centro Tecnológico Leitat, em Barcelona, na Espanha, e demandou três meses, com a supervisão do doutor em engenharia têxtil Paul Roshan, e orientação do professor e doutor em engenharia têxtil da Universidade da Beira Interior Nuno Belino. "Sempre pensei em pesquisas e estudos com os tecidos. Então, depois da minha formatura na Fumec, em 2010, decidi me candidatar ao mestrado em design têxtil, que concluí no ano passado. Sem apoio institucional ou bolsa de estudos, Lucas trilha seu caminho com recursos da família.

    Inicialmente, o têxtil, chamado de malha hospitalar e considerado eco-friendly por não causar danos ambientais, foi desenvolvido para as roupas que os médicos usam no trabalho, mas tem aplicação também em cortinas, lençóis, fronhas e até mesmo no filtro de aparelhos de ar-condicionado desses ambientes."Durante o mestrado, resolvi direcionar minhas investigações para a área de engenharia têxtil, daí os estudos com agentes antimicrobianos para desenvolvimento de malhas hospitalares. Agora vem outra etapa, que é procurar empresas parceiras, na Europa e em outros continentes, que queiram investir na industrialização da malha", afirma Lucas.

    Situação no brasil é preocupante

    A tensão constante em torno das infecções hospitalares vem despertando a atenção quanto aos produtos têxteis hospitalares e destaca a possibilidade de esses materiais serem usados como ferramenta de primeira linha para combater os problemas de saúde pública."A fibra de algodão é suscetível ao desenvolvimento de micro-organismos, que não só o degradam, como também atuam como veículo de transmissão de doenças. Consciente disso, acredito estar contribuindo para o desenvolvimento de vestuário hospitalar alternativo, em fibra de cânhamo, para ambientes com risco biológico", diz Lucas Naves.

    E ele não está errado. Um dos últimos estudos feitos no Brasil foi realizado pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo, por solicitação do Ministério Público Estadual, a partir de uma amostra de 158 hospitais. Os resultados não foram nada satisfatórios: são sérios os problemas nos programas de prevenção e controle de infecção hospitalar.

    Um dos cenários mais importantes da pesquisa mostrou que 7,6% das unidades de saúde não tinham comissões de controle de infecção hospitalar (CCIH) e 53,8% das instituições não contavam com o quadro mínimo de executores conforme previsto em lei. Apenas 28 (17,7%) dos hospitais vistoriados atendiam itens fundamentais sobre o funcionamento das CCIHs e 21% das unidades de saúde avaliadas não tinham critério formal para diagnosticar infecção hospitalar. A pesquisa também revelou que não existia um programa de prevenção e controle de infecção hospitalar formalmente elaborado e executado em cerca de metade das instituições avaliadas.

    Retrato nacional

    Apesar de feita em São Paulo, a amostra retrata a realidade de grande parte das instituições brasileiras. O estudo demonstra ainda que muitas instituições brasileiras convivem com graves problemas estruturais como falta de pias, área física inadequada, principalmente nas UTIs, e superlotação, além de número reduzido de funcionários e falta de protocolos clínicos e comportamentais, como lavagem de mãos deficiente, prescrição excessiva e inadequada de antimicrobianos e falta de treinamento para a prevenção e controle de infecções. (Estado de Minas)

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    Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/noticias/tecido-para-afastar-infeccao-hospitalar/100352627

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