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29 de Abril de 2024

Caso Eliza Samúdio: Bruno Fernandes condenado a 22 anos e 3 meses

Principal réu no assassinato de Eliza Samudio é condenado. Goleiro não recorrerá em liberdade, mas pode ir para a rua em cerca de quatro anos. MP anuncia que vai recorrer

O destino parece ter preparado toda uma sequência de ironias para o desfecho do caso de violência contra a mulher de maior repercussão na história do Judiciário mineiro. Nas primeiras horas do Dia Internacional da Mulher, coube a uma juíza ler para o principal réu no processo sobre o sumiço e morte de Eliza Samudio uma condenação proferida a partir de um júri predominantemente feminino. Se o último dia do julgamento do goleiro Bruno Fernandes de Souza começou com uma reviravolta, terminou da maneira que parecia se desenhar desde o início: com uma pena de 22 anos e três meses, sem direito a recurso em liberdade. O ex-jogador, que já passou dois anos e oito meses atrás das grades e tem um ano de remissão de pena por serviços prestados na detenção, continuará preso e sem direito a progressão de regime por cerca de quatro anos. Situação bem pior que a de sua ex-mulher, Dayanne Rodrigues de Souza, inocentada, como havia pedido o Ministério Público, mas por placar apertado. As penas, porém, não agradaram nem à defesa, que promete apelar, nem à promotoria, que também vai recorrer ao Tribunal de Justiça de Minas Gerais, tampouco à mãe da vítima.

Pela manhã, os defensores da dupla de réus haviam surpreendido a todos ao pedir que tanto Bruno quanto Dayanne voltassem a depor, mas as cinco juradas e dois jurados do caso, depois de ouvi-los novamente e acompanhar horas de duelo entre promotoria e defesa, seguiram a linha que vinha sendo antecipada por vários juristas fora do salão do júri. Mas o representante do MP também teve sua atitude inesperada, quando recomendou a absolvição de Dayanne, depois da nova inquisição dos réus. Para Bruno, que admitiu saber que sua ex-amante Eliza Samudio seria assassinada, tentando reforçar o tom de confissão de seu depoimento, a estratégia não funcionou: a promotoria pediu "condenação exemplar" do réu.

Repetidamente, Henry Wagner disse que o goleiro era "o culpado, o articulador, o comandante, o que deu a direção" de tudo. Bastante nervoso, Bruno, ao ser reinquirido, disse que só responderia ao seu advogado. E se limitou a dizer: "Eu sabia e imaginava", quando perguntado se tinha conhecimento de que Eliza seria morta. A estratégia do MP surtiu efeito, já que Bruno recebeu pena com todos os agravantes previstos para o caso.

Tensão

A sentença foi proferida depois de um dia em que não faltaram bate-bocas e trocas de acusações entre advogados. Apesar de Bruno ter confessado, aos olhos da sua defesa, relatando a morte de Eliza Samudio exatamente nos termos que teria ouvido do seu primo Jorge Luiz Rosa Sales - que coincidem com o que o rapaz contou em depoimento à Justiça e à polícia -, o advogado Lúcio Adolfo usou boa parte de seu tempo para desqualificar a testemunha e suas informações. Ele frisou que o promotor Henry Wagner chamou Jorge de mentiroso "em praça pública". Acabou, assim, estabelecendo uma contradição entre o que disse o cliente, em tom de confissão, e a linha da defesa.

"Se Jorge falou a verdade, se ele era confiável, por que não o trouxeram dentro de uma caixa de veludo, acompanhado por advogados, conselheiro tutelar, promotor? Onde está a legalidade e a decência dessa prova?" , questionou Lúcio Adolfo. "Se ele acha o menor mentiroso, eu também acho, mas a prova não era baseada no depoimento dele?" O questionamento tomou conta de quase toda a explanação de Lúcio Adolfo. Antes de pedir a absolvição de Bruno por falta de prova concreta, disse que houve acordo para a confissão de Macarrão, que resultou na redução de pena, e, nas desqualificações, não poupou a vítima Eliza nem a mãe dela.

As palavras do defensor foram rebatidas pelo promotor, que acusou Lúcio Adolfo de mentir. Em uma das reações mais duras, o representante do Ministério Público tentou demonstrar nos autos a contradição da defesa. "A promotoria sempre quis trazê-lo (Jorge) para depor e tentou até por videoconferência, quando ele estava no programa de proteção de testemunha. A defesa, que não tem vergonha na cara, não trouxe, não permitiu", contra-atacou.

Já no caso de Dayanne, para pedir a absolvição Henry Wagner considerou que ela agiu sob pressão do policial aposentado José Lauriano, o Zezé, que teria articulado o sumiço do filho de Eliza, Bruninho, para preservar Bruno. A ex-mulher do goleiro repetiu que temia e teme que Zezé lhe faça algum mal ou aos seus familiares. A postura do representante do MP, porém, recebeu críticas dos que atuavam ao lado da promotoria, como a advogada Maria Lúcia Borges, representante da mãe de Eliza, Sonia Moura. Ela pretende recorrer da absolvição da ré.

Os defensores de Bruno também anunciaram, antes mesmo da leitura oficial da sentença, que recorreriam. Já o promotor comemorou a condenação de Bruno, afirmando que o fato de os jurados terem entendido que pesa contra o réu a ocultação de cadáver complica o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, apontado como executor do crime e que deve ser julgado no mês que vem. Porém, Henry Wagner disse que esperava uma pena entre 28 e 30 anos para o réu, e que pretende recorrer a instâncias superiores para que a punição seja revista. (Estado de Minas)

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