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19 de Abril de 2024
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    Igrejas humildes até demais

    Templos de várias regiões de Minas enfrentam problemas de conservação e falta de recursos para iniciar obras. Alguns precisaram ser fechados para segurança dos fiéis

    O papa Francisco já avisou: a Igreja é dos pobres e dos humildes. Mas para que os desvalidos - e também ricos e remediados - frequentem a casa de Deus, em segurança, é preciso que os templos estejam em bom estado de conservação. Do contrário, não há força da fé, oração para santo forte e mãos de anjo da guarda que amparem o teto, afastem goteiras e segurem madeiras podres. Nas várias regiões de Minas, fiéis fazem das tripas coração para salvar os templos: barraquinhas, carnês e apelo às autoridades. Nem sempre tudo dá certo. No Bairro de Santo Antônio de Roça Grande, em Sabará, na Grande BH, o santuário se encontra fechado e à espera de recursos para obras. Já no distrito de Itapanhoacanga, em Alvorada de Minas, na Região Central, a comunidade luta há 20 anos pelo restauro da Igreja de São José, do século 18. E no Povoado de Pinhões, em Santa Luzia, nem a casa paroquial escapa da ruína. Triste mesmo é na Vila Castelo Branco, em Montes Claros, no Norte do estado: de tão pobres, os moradores não conseguem meios para erguer a capelinha e rezar em paz para Santo Antônio.

    A distância entre Roma e o interior de Minas é oceânica e montanhosa, assim como há diferenças entre Igreja (instituição) e igreja (templo), mas todos os caminhos levam à fé, ao amor pela história e bens culturais. "Não adianta a Igreja ser dos pobres, se os pobres não puderem entrar nela", observa o padre Agnaldo do Carmo, há três anos atuando como pároco e reitor do Santuário de Santo Antônio de Roça Grande. Ele conta que a devoção ao padroeiro tem mais de 300 anos e as romarias são intensas, independentemente da época do ano. Sem tombamento, a igreja ,que completará 100 anos em 2015, padece com a falta de verbas para consertos no forro, piso, paredes, iluminação, projeto elétrico e de segurança. O serviço completo está orçado em R$ 350 mil e os católicos ajudam como podem. Desde setembro, a cada dia 13, cada devoto contribui, no carnê, com R$ 13. O tempo de duração do pagamento é de 13 meses - uma alusão a 13 de junho, dia de Santo Antônio.

    "Tudo aqui foi feito no mutirão", diz o padre Agnaldo, que sonha ver pronto, no barrado de toda a igreja, um painel de azulejos, atualmente em produção em Florianópolis (SC). As peças vão contar toda a história do local, desde a chegada dos bandeirantes. Ele chama a atenção para dois altares remanescentes da capela primitiva, que demandam serviços urgentes para recuperar os douramentos do trono de Nossa Senhora de Belém, e a pintura original, coberta com motivos inadequados, de onde ficavam Nossa Senhora das Dores e São Sebastião. "Esta igreja faz muita falta, mas uma hora dessas ficará pronta", conta, com humildade, a aposentada Zita Pascoal Perdigão, de 74 anos. Enquanto isso, pombos sujam as paredes e mostram a necessidade urgente de reparos. As atividades religiosas, diz padre Agnaldo, são realizadas no santuário novo, construído a 500 metros do mais antigo.

    Só projeto

    Em Pinhões, a 10 quilômetros do Centro de Santa Luzia, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, tombada pelo município, tem problemas de infiltrações, falta de segurança - foram três arrombamentos nos últimos quatro anos e as marcas ainda estão nos remendos das janelas, por onde os bandidos entraram - e urgência na troca de telhas francesas. "O perigo maior foi que, no último assalto, os ladrões deixaram uma vela acesa. Não encontraram dinheiro e foram embora, mas poderiam ter causado incêndio" , conta o aposentado Marcos Antônio Diniz, que se intitula "um colaborador" da igreja.

    Mas o perigo mora mesmo é ao lado - e bem ao lado, na casa paroquial. A singela construção do século 19 está em completo arruinamento, com parte do telhado desabando, paredes de adobe caindo e muitos morcegos para dar as boas-vindas. Há pouco tempo no cargo, o titular da Paróquia do Bom Jesus e Nossa Senhora Aparecida, padre Vicente de Menezes, revela que ficou espantado ao ver a situação da construção, que já abrigou até consultório médico. "Precisa de restauração para não desaparecer", diz o religioso. Ao abrir a porta emperrada, Marcos Antônio explica que a prefeitura prometeu entregar a obra concluída em dezembro de 2010, mas nada foi feito. De acordo com a Secretaria Municipal de Cultura de Santa Luzia, "a igreja é tombada pelo município, mas não há projeto para restauração. Tal restauração fica a cargo da arquidiocese". Já a arquidiocese de BH esclarece que um engenheiro do Memorial Arquidiocesano esteve no local e elabora um projeto.

    Joia barroca

    Uma luta de quase 20 anos se arrasta no distrito colonial de Itapanhoacanga, em Alvorada de Minas, a 345 quilômetros de Belo Horizonte, para tentar salvar da ruína a Matriz de São José, considerada uma das joias barrocas da Região Central de Minas e cartão-postal do município. Fechada há oito meses por representar risco à segurança dos fiéis, a igreja concluída em 1785 e tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) apresenta problemas que vão das trincas e rachaduras nas paredes à deterioração de madeiras do forro, conforme perícia do Corpo de Bombeiros. Inconformados com a situação, os moradores do distrito fizeram manifestação no dia de São José dando um abraço simbólico no templo.

    "Agora, vamos pedir providências ao Ministério Público do estado para reabertura da matriz e preservação, enviando um 'abraço-assinado' à Promotoria de Justiça na comarca do Serro", diz a professora Silvânia Maria Reis, numa referência carinhosa ao abaixo-assinado com mais de 200 nomes. (Estado de Minas)

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    Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/noticias/igrejas-humildes-ate-demais/100417137

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