Terrorismo é aqui

Advogado e jornalista Os atentados terroristas em Boston, no último dia 15, reabrem o debate sobre a vulnerabilidade das nações à ação bestial de grupos extremistas espalhados no planeta. Não surpreende serem os Estados Unidos e países aliados os alvos principais do terror. A guerra desfechada contra o Iraque (2003/2011) por coalizão sob a liderança de forças norte-americanas e a que sucede, há tempos, para desestabilizar os talibãs no Afeganistão são canteiros em que se deixam plantados ódio e projetos de vingança sanguinária.

O mais grave, em relação aos EUA, é não serem poucos os norte-americanos que cogitam atacar o país com as ferramentas usadas pela Al Qaeda. Um exemplo: em 19 de abril de 1995, o ataque terrorista contra imóvel federal situado em Oklahoma City foi perpetrado pelo norte-americano Timothy McVeigh. Saldo da tragédia: 168 mortos e mais de 500 feridos. Em maio de 2009, quatro cidadãos norte-americanos filhos de muçulmanos elaboraram plano para destruir mísseis terra-ar instalados no aeroporto da Guarda Nacional em Stewart, estado de Nova York. Descobertos, foram presos pelo FBI.

Antes de naturalizarem-se norte-americanos, os chechenos Dzhokhar Tsarnaev, capturado com ferimentos graves, e o irmão Tamerian Tsarnaev, morto em perseguição pela polícia, teriam sido treinados no Cáucaso por islamitas radicais. Verdade ou não, a cegueira fundamentalista visível na ação de ambos mostra o quanto se estende pelo mundo o rancor contra os Estados Unidos. Afinal, se razão houvesse para tanto delírio homicida embora a repugnem à consciência civilizada massacres de qualquer espécie o palco da catástrofe humana teria algum sentido em Moscou. Como se sabe, a Rússia sustentou guerra feroz (1994-1996) para sufocar o movimento de independência da República da Chechênia. Há registro de que os russos praticaram algumas chacinas.

Quanto aos riscos à perda da vida a que estão expostos os norte-americanos, vale observar que se situam em níveis mínimos em relação aos brasileiros. Bastam algumas amostragens para demonstrar a calamidade. Em São Paulo, no primeiro bimestre deste ano, houve nada menos que 787 homicídios. Ou seja, mais de 13 pessoas foram mortas por dia de forma intencional. A tragédia vai além: a informação divulgada pela Secretaria de Segurança Pública paulista acrescenta que o número é 15% superior ao anotado no mesmo período de 2012. Não é tudo: o avanço estatístico não cessa nos últimos 20 anos.

Na dimensão nacional, a taxa de homicídios vai a 26 para cada 100 mil habitantes, dado da Estratégia Nacional de Justiça e Segurança Pública, entidade parceira do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Ministério da Justiça e Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). O levantamento refere-se a junho de 2012. E qualifica o Brasil como a nação com maior número de homicídios do mundo. Segundo a ONU, sofre de violência endêmica o país que contabiliza homicídios acima de 10 para cada 100 mil habitantes.

A mortandade em escala bárbara há muito inscreveu-se no cotidiano da vida no Brasil. O governo olha a paisagem e promete, desde sempre, pacificar o país. Nada acontece, além da consternação no âmbito das famílias atingidas pela fúria de assassinos. É assim que, aqui, a violência poderia ser classificada, com irrepreensível propriedade, de terrorismo à brasileira. (Estado de Minas)