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26 de Abril de 2024
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    Em sete horas de sabatina, Barroso recita poemas e faz piada, mas não deixa de lado temas como mensalão

    Frasista que pontuou seus votos durante os sete meses no Supremo Tribunal Federal (STF) com pérolas como derramamento de bílis e produção de neurônios não combinam, o ex-ministro Carlos Ayres Britto terá um substituto à altura do seu bom humor na cadeira vaga com a aposentadoria compulsória. O jurista Luís Roberto Barroso atravessou as cerca de sete horas da sabatina realizada no Senado nesta quarta-feira com leveza, sem deixar de lado temas espinhosos. Mas em vários momentos, com tiradas pouco usuais ao momento, levou às gargalhadas o plenário abarrotado de senadores, familiares, advogados e ex-ministros do STF. Além disso, pela primeira vez um sabatinado respondeu perguntas de internautas.

    O sucessor de Ayres Britto, que acompanhou a sabatina, fez citações em espanhol, repetiu versos de Neruda, Manuel Bandeira, falou das agruras do seu longo casamento de 30 anos na presença da mulher e, ao comentar o detalhismo e abrangência da Constituição brasileira, repetiu um slogan muito usado pelas cartomantes, pregados em postes, para atrair clientes desesperados e desavisados.

    - A Constituição tem solução para tudo, só não traz a pessoa amada em três dias. Fora isso, quase tudo é possível fazer! - brincou Barroso, dando ali o tom da informalidade em suas respostas, sem comprometer o embasamento jurídico.

    Em determinado momento, ao falar que era muito bem casado, mostrando no plenário a mulher, filhos e genro, Barroso voltou a provocar gargalhadas.

    - O casamento só é ruim nos primeiros trinta anos, depois a gente vai dando um jeito! - disse, rindo dele mesmo e olhando para a esposa ali na frente.

    Os senadores entraram no clima das brincadeiras. O líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM) continuou:

    - Digo ao senhor, professor Barroso, que meu casamento não precisa ser revisto.

    Costumeiramente sisudo, o líder do PSDB, senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) complementou:

    - O casamento é cláusula pétrea - seguido de risos.

    - Que medo! - replicou Braga.

    Sem almoço e plantado na cadeira desde as 10h30min, por volta das 14h o futuro ministro do Supremo foi socorrido pelo senador Pedro Taques (PDT-MT).

    - Senhor presidente, o princípio da dignidade humana também vale para o sabatinado. Será que ele não quer ir ao banheiro ou fazer um lanche? - disse Taques.

    Presidindo a sessão, o vice-presidente da CCJ, Aníbal Diniz (PT-AC), respondeu que às 14h30min haveria uma pausa.

    - Mas caso precise, se tiver apertado, ele pode reivindicar (o direito de ir ao banheiro) - completou.

    - Obrigada por zelar por minhas circunstâncias - agradeceu Barroso, dirigindo-se a Taques.

    Ao ser perguntado sobre o funcionamento da TV Justiça e as transmissões dos julgamentos ao vivo, Barroso disse ser favorável à existência da emissora e disse que dá transparência as atividades do tribunal. E repetiu expressão utilizada pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, ao classificar a ação dos condenados no mensalão.

    - Acaba com a imagem de que, atrás de cada porta fechada, estão acontecendo tenebrosas transações. As transmissões têm caráter pedagógico importante. Acho que faz bem ao país - disse Barroso, referindo-se a trecho da letra de "Vai passar", música de Chico Buarque e Francis Hime.

    Em suas respostas, Barroso procurou ser transparente. Lembrando Manuel Bandeira, disse: Só não fui mais claro porque não soube. E falou muito do seu estilo pessoal e da importância de ter uma ideologia. Disse que foi um militante do movimento estudantil e que sempre teve o coração dividido entre a vida política e a vida acadêmica. Optou pela acadêmica, mas sempre manteve um olhar político sobre a vida

    - Na vida no hay o que temer - disse, entremeando as falas em Espanhol. - Hay que tener una ideologia.

    De Neruda, Barroso emprestou uma fração de poema para expressar seu grande amor pelo Brasil. Disse que em momento algum pensou em morar fora daqui.

    - Todos os meus afetos estão aqui. Mil vezes tivera que nascer, queria nascer aqui. Mil vezes tivera que morrer, queria morrer aqui.

    Sobre seus credos, disse que crê no bem, na Justiça e na tolerância. Sobre diversidade religiosa, disse que é filho de mãe judia, pai católico, viveu com uma família protestante e tinha um amigo faz-tudo doméstico que era da Arábia Saudita.

    - Todos os sentimentos são plurais nessa matéria - disse.

    Fluminense de Vassouras, Luiz Roberto Barroso lembrou que sua cidade natal produziu três ministros do STF, e que não sabia como tinha chegado ao posto.

    - Achei que a cota de Vassouras já estivesse completa. Não sei exatamente como cheguei aqui - disse.

    Durante a sabatina, Barroso foi muito incensado por todos e encerrou sua sabatina emocionado, com os olhos cheios de lágrimas e aplaudido por todos.

    - Vossa Senhoria me obriga a fazer algo que não costumo fazer nessa tribuna: reconhecer que, desta vez, a presidenta Dilma acertou - confessou o tucano Aécio Neves (PSDB-MG).

    O único momento de constrangimento foi no plenário, quando se apreciava já a aprovação da CCJ. O senador Magno Malta (PR-ES), que na véspera prometera comparecer à sabatina para questioná-lo sobre um processo movido por uma advogada e arquivado, não o inquiriu durante a sabatina. Mas foi ao plenário protestar pelas manifestações do futuro ministro sobre redução da maioridade penal e aborto.

    - Ele vai para um tribunal superior e depois daquele tribunal só tem Deus - protestou Magno Malta. (O Globo)

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